Ser totalmente honesto num mundo tomado pela hediondez


A vantagem de ser totalmente honesto com os outros num mundo que se afunda na hediondez é… nenhuma. Contudo, isso não significa que devemos ser desonestos e desgraçados como a maioria, mas sim, não sermos ingênuos, tolos. 

Como já dizia Maquiavel: “Quem, num mundo cheio de perversos, pretende seguir em tudo os ditames da bondade, caminha inevitavelmente para a própria perdição”.

O tolo ainda dirá: “Ah, mas ser totalmente honesto tem uma vantagem, sim. A vantagem de poder deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo”.

Sobre isso, digo o seguinte: o homem honesto deita a cabeça no travesseiro e dorme tranquilo até o dia em que o ser humano totalmente desonesto, cruel, criminoso, sociopata, psicopata, politicopata/corruptopata/religiopata fanático e sinistro resolve atormentá-lo. Seja perseguindo-o no trabalho e ameaçando seu ganha-pão, seja infernizando sua vida com som alto quando ele precisa descansar, seja ameaçando-o no trânsito caótico, seguindo-o, tentando invadir sua casa e matar ele e sua família.

Nesse momento, o homem totalmente honesto entende que não existe isso de “dormir tranquilo” num mundo à beira do colapso social, da ruptura civilizatória e de uma nova Idade das Trevas. O Homem de Verdade, aquele que presta atenção aos movimentos do mundo, sabe que não existe dormir tranquilo. Não aqui. Talvez em nenhum mundo possível.

Por isso, não existe ninguém totalmente honesto com os outros. É impossível ser totalmente honesto num mundo de desonestos, fanáticos, extremistas, traiçoeiros, bizarros, idiotizados e violentos.

Claro, existem bilhões de tolos, ingênuos, otários, ovelhas, que são detonados sem dó nem piedade pelos vivos, espertos, malandros, criminosos e loucos do mundo.

Infelizmente, “isso poderia ser aquilo, se não fosse apenas isso”.

E como viver relativamente de boas num mundo desse tipo? Sendo totalmente honesto consigo mesmo. Aceitando o caos, a luz e as trevas que se é. Aceitando que, de uma hora para outra, você pode matar ou ser morto. Aceitando que, para viver minimamente bem, é preciso ser forte. Espírito forte. Um pouco louco, um pouco psicopata. Capaz de fazer o diabo para se proteger e proteger os pouquíssimos que estão ao seu lado.

Cuidar de si e dos raríssimos que caminham contigo. Fazer o máximo com o que se tem. Contentar-se com o que se consegue. Não ser capturado pelo materialismo nem pelo apego doentio às coisas. Seguir em frente, cultivando o próprio jardim, como diria Voltaire, e deixar que o mundo exploda.

Porque, cedo ou tarde, ele vai explodir. Inevitavelmente. E se você ficar pensando demais nisso, acabará desesperado, amargo, nervoso, talvez violento. E violento de um jeito imprevisivelmente ruim.

Este é o mundo cão. Todos estão sujeitos a tudo. Ao bem e, principalmente, ao terrivelmente mau.

Ainda assim, por mais foda que seja (e é foda pra caralho), não permita que o mal que afunda este mundo tome sua mente, seu coração e sua alma. Seja bravo. Seja leve. Seja firme. Tenha coragem de ser quem você é, custe o que custar, doa o que doer.

Os pouquíssimos e raríssimos que também são assim, aqui e além daqui, acabarão se aproximando. E juntos vocês irão longe. Ninguém está totalmente sozinho.

Somos Legião e somos muitos. Pelos séculos dos séculos, até que os Céus caiam sobre a Terra. Para sempre e eternamente. 

Sapere Aude! 



___E. E-Kan




Referências:

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Capítulo XV – Das coisas pelas quais os homens, e especialmente os príncipes, são louvados ou vituperados.

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