"O antirracismo branco é racista", esse o disco riscado do extremismo de parte da esquerda
"O antirracismo branco é racista", dizem os/as extremistas da esquerda.
Quer dizer que a minha contribuição no combate ao racismo, sendo eu um homem branco, não vale nada? E pior, ainda assim eu sou racista? No entanto, se eu for de alguma panelinha de esquerda, aí está tudo bem?
Racismo Estrutural, Antirracismo e Radicalização Discursiva: Uma Análise Crítica das Tensões Contemporâneas
O debate público sobre racismo estrutural tem sido recentemente marcado pela intensificação de discursos identitários radicalizados que tensionam o campo antirracista e impactam a percepção social sobre o tema. Embora o conceito de racismo estrutural possua sólida fundamentação sociológica, jurídica e histórica, observa-se o surgimento de slogans militantes que distorcem sua formulação original, contribuindo para a polarização política. Entre tais distorções, destaca-se a afirmação segundo a qual “antirracismo de pessoas brancas é racista”, frequentemente veiculada em bolhas digitais pautadas por identitarismo de alta intensidade.
A literatura especializada, contudo, não sustenta essa concepção. O racismo estrutural, entendido como a produção e reprodução de desigualdades raciais por meio de instituições, práticas sociais e mecanismos históricos de exclusão, foi desenvolvido em estudos que vão de Carmichael e Hamilton (1967) a autores contemporâneos como Munanga (2017) e Almeida (2018). Nenhum desses autores exclui a participação de indivíduos brancos na luta antirracista; ao contrário, enfatizam a necessidade de ações amplas, intergrupais e institucionalmente orientadas. Frantz Fanon (1961), por exemplo, alerta para a centralidade da consciência crítica e da transformação estrutural, não para a racialização de responsabilidades morais individuais.
A emergência de discursos que desqualificam a atuação antirracista de pessoas brancas pode ser compreendida, parcialmente, como produto de dinâmicas internas a certos coletivos identitários, para os quais a autoridade discursiva está vinculada à experiência vivida. Essa lógica deriva da noção de “epistemologias do ponto de vista”, inspirada em autoras como Patricia Hill Collins (1990), mas reinterpretada de forma radicalizada em ambientes digitais. Nessas versões extremas, a participação de sujeitos brancos seria vista como potencialmente ilegítima ou como forma de usurpação de protagonismo. Esse deslocamento argumentativo não encontra respaldo na tradição acadêmica e tampouco nos movimentos negros históricos, que sempre articularam alianças estratégicas com setores não negros da sociedade.
Além disso, a literatura sobre polarização política e economia da atenção indica que discursos maximalistas e moralmente binários possuem maior potencial de viralização e engajamento, o que favorece a disseminação de slogans que reduzem fenômenos complexos a juízos identitários simplificados. A lógica algorítmica das redes sociais reforça padrões de recompensa para mensagens contundentes, ainda que intelectualmente pobres, criando um ambiente propício ao crescimento de microcomunidades militantes cuja retórica se distancia de análises sociológicas rigorosas.
Esses fatores contribuem para o que alguns autores denominam “hiperidentitarismo digital”, uma forma de engajamento político que transforma pautas estruturais em disputas morais personalizadas. Tal dinâmica tende a fragilizar o debate público sobre racismo, pois desloca o foco das desigualdades institucionais para batalhas simbólicas entre grupos, obscurecendo diagnósticos fundamentais sobre educação, renda, violência e mobilidade social. Em consequência, setores antagonistas utilizam esses excessos discursivos como argumento para negar o próprio conceito de racismo estrutural, gerando um ciclo de retroalimentação polarizante.
Em síntese, o racismo estrutural permanece um conceito analiticamente robusto, respaldado por extensa produção científica e por dados empíricos amplamente documentados. Todavia, sua apropriação por grupos identitários radicalizados introduz ruídos que distorcem sua compreensão e prejudicam sua capacidade de orientar políticas públicas eficazes. A crítica a tais distorções não implica relativizar a existência das desigualdades raciais; ao contrário, visa fortalecer o rigor teórico e a clareza analítica essenciais para o avanço de um debate público mais responsável, plural e intelectualmente honesto.
Honestidade Intelectual, essa é a coisa que você nunca verá quando se trata de extremistas, seja que esquerda, de direita, do raio que o parta.
Todo extremista deve ser repudiado, isolado e rifado, banido do convívio social. É simples assim.
E. E-Kan
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2018.
CARMICHAEL, Stokely; HAMILTON, Charles. Black Power: The Politics of Liberation. New York: Vintage Books, 1967.
COLLINS, Patricia Hill. Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and the Politics of Empowerment. Boston: Unwin Hyman, 1990.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Tradução de José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
(Obra original: 1961.)
MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.





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