O que Lula está fazendo com o Plano Nacional de Cultura (PNC) guarda semelhanças com o que Xi Jinping promoveu na China durante a chamada segunda revolução cultural, (especialmente a partir de 2013 — quando ele promoveu um processo amplo de recentralização ideológica, controle cultural e alinhamento da sociedade aos valores do Partido Comunista Chinês), isto é, usar a cultura como instrumento máximo de poder, capaz de garantir à esquerda uma influência que ultrapasse sua própria vida política. A doutrinação que antes se concentrava principalmente em escolas e universidades públicas agora avança para um novo patamar, buscando moldar percepções e sensibilidades em larga escala. Trata-se de uma estratégia de formação ideológica em massa, contínua, espalhada por todos os cantos, apresentada como valorização cultural e absorvida pelo povo quase sem perceber. Assim, a cultura popular deixa de ser espontânea e plural para ser gradualmente capturada por um projeto político, transformando-se em veículo de uma narrativa única.

ANALISEMOS>>>


RESUMO

O Plano Nacional de Cultura (PNC 2025–2035) apresenta a cultura como base para um “projeto de nação”. Essa escolha mostra que o governo pretende usar a cultura de forma permanente, indo além de mandatos políticos. O texto do PNC destaca que suas ações devem se tornar políticas de Estado e alcançar escolas, territórios vulneráveis, redes digitais e processos formativos. A partir disso, o artigo discute como o plano pode funcionar como instrumento de influência ideológica de longo prazo, aproximando-se da ideia de hegemonia cultural. Assim, o PNC pode criar condições para consolidar valores progressistas na sociedade, moldando imaginários e orientando percepções sobre democracia, identidade e participação social. 

INTRODUÇÃO

O Plano Nacional de Cultura 2025–2035 define-se como “instrumento estratégico para o planejamento das políticas culturais no Brasil” (PNC, 2025, p. 3). Seu próprio texto mostra que o projeto pretende orientar o país por muito tempo, indo além de governos específicos. Ao afirmar que traduz “o projeto de nação do governo do Brasil” (PNC, 2025, p. 8), o documento coloca a cultura como eixo central da vida social. Neste artigo, discutimos como esse plano pode servir como ferramenta de formação de valores e comportamentos, alinhando-se à ideia de hegemonia cultural, tal como discutida por Gramsci e Althusser. 

DESENVOLVIMENTO

1. Cultura como base de um projeto de longo prazo

O PNC afirma que suas ações devem ultrapassar “projetos pontuais de governo ou de partidos” e se tornar “verdadeiras políticas de Estado” (PNC, 2025, p. 8). Essa ideia já indica uma ambição de continuidade: a cultura seria usada como força estruturante, capaz de permanecer mesmo quando mudarem governos ou lideranças. Esse tipo de construção dialoga diretamente com o conceito gramsciano de hegemonia, no qual o Estado busca orientar o senso comum por meio de influências culturais e educativas. 

2. A formação de valores por meio da cultura

O plano estabelece como diretriz “fortalecer a democracia” pela política cultural (PNC, 2025, p. 20) e defende participação ativa da sociedade nas decisões culturais. Ao mesmo tempo, reforça o “controle social” e o direito à “livre expressão de pensamento” (PNC, 2025, p. 19). Embora esses objetivos pareçam amplos, eles também podem funcionar como formas de direcionar a formação social. Para Althusser, quando o Estado atua sobre educação, mídia e cultura, ele influencia modos de pensar — não necessariamente de forma autoritária, mas constante. 

3. Territorialização como estratégia de presença estatal

O PNC afirma que busca ser “conectado ao acontecimento cultural nos territórios” e adaptado a “cada lugar do Brasil” (PNC, 2025, p. 9). Também prioriza ações em “territórios vulnerabilizados” (PNC, 2025, p. 21). Essa presença intensa em comunidades fragilizadas pode produzir, ao longo do tempo, uma relação direta entre Estado e populações locais, fortalecendo a influência simbólica do governo em regiões onde o impacto cultural costuma ser maior.

4. A entrada da cultura na educação formal

O Eixo 4 determina “universalizar a presença das artes, da cultura e da memória nos currículos” de todos os níveis de ensino (PNC, 2025, p. 25). Essa medida amplia a presença do Estado na formação escolar, atingindo as gerações futuras. Ao ocupar escolas e universidades, a política cultural passa a influenciar percepções sobre identidade, democracia, patrimônio e vida social. Novamente, isso não significa doutrinação automática — mas cria condições para que valores oficiais se tornem amplamente difundidos. 

CONCLUSÃO

O PNC apresenta uma visão de cultura que ultrapassa a ideia de incentivo artístico e se transforma em ferramenta de organização social. Quando o documento afirma que suas ações devem ser políticas “de Estado” (PNC, 2025, p. 8) e que a cultura deve estar na formação escolar (PNC, 2025, p. 25), demonstra um plano de longo prazo. Isso abre espaço para a interpretação de que o governo deseja estabelecer uma orientação cultural que permaneça mesmo após mudanças políticas — uma forma de hegemonia construída pelo simbólico. Assim, a cultura passa a funcionar como campo estratégico de disputa, capaz de moldar percepções sociais e influenciar o imaginário coletivo por muitos anos. 

E. E-Kan


REFERÊNCIAS

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1992.

BRASIL. Ministério da Cultura. Plano Nacional de Cultura 2025–2035. Brasília: MinC, 2025.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2016.

Comentários

Para pedir livros em PDF, mande e-mail para freucolivros@gmail.com

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Postagens mais visitadas