Os Franciscanos e os Dominicanos na origem da Inquisição Espanhola e a treta com os Judeus


Adeline Rucquoi, em História Medieval da Península Ibérica, no capítulo "A Reconquista como mito unificador", diz:


"Os franciscanos, apesar ou, sem dúvida, por causa da sua busca perpétua de uma pobreza cada vez mais absoluta, foram inegavelmente aqueles que usufruíram da maior proteção por parte tanto dos reis como do povo. Sempre à beira da heresia, portadores de uma visão agostiniana do mundo, sua mensagem, no século XV, tornou-se escatológica e messiânica e contribuiu tanto para a criação da Inquisição pelos Reis Católicos, em 1488, como para a apresentação desses reis como os salvadores da Espanha." (RUCQUOI, 1993, p. 300).

Relato da animosidade e extremismo entre Católicos e Judeus:

"O século XIII constitui igualmente a época da génese da intolerância que pôs fim à coexistência dois séculos e meio mais tarde. A intolerância cristã, de que Raimundo de Peñafort [Dominicano] se tornou um dos primeiros mentores, confrontou-se com a crescente intolerância dos judeus, tendo florescido dos dois lados os movimentos messiânicos e proféticos. No século XII haviam aparecido falsos Messias em Córdova e, depois, em Lucena, enquanto o judaísmo ibérico recusava a exegese pura dos textos, e o rabinismo prevalecia sobre a «heresia» caraíta. No século seguinte, Abraão Abulafia (1240-1292) foi até Roma para tentar converter o papa Nicolau III ao judaísmo antes de pregar na Sicília a vinda do Messias. Em 1263 foi organizada em Barcelona a primeira «disputa» teológica da península, em presença do rei Jaime I, disputa destinada a provar aos judeus a verdade do cristianismo. O rei recompensou o rabino Namânidas «por ter defendido bem uma causa errada» e assistiu no sábado seguinte ao serviço da sinagoga. No reino de Granada, o maliquismo intransigente continuava a ser propagado pelos alfaquies, desenvolvendo-se numerosos movimentos místicos. As tabernas, o vinho, os jogos, o haxixe e a libertinagem de Granada suscitavam comentários diversos por parte dos viajantes estrangeiros." (RUCQUOI, 1993, p. 303-304).

E por fim:

"A situação dos judeus na corte e nas cidades torna-se mais difícil a partir do final do século XIII, de acordo com a conjuntura econômica e social que se seguiu às últimas grandes campanhas de reconquista. Em Portugal, concedendo-lhes diversos privilégios, o rei D. Dinis impôs-lhes o uso de um distintivo, medida reinstituída em 1390 por D. João I. Os reis de Aragão e de Castela viram-se na obrigação de dispensar bom número de seus conselheiros e médicos judeus. Os bayles judeus da coroa de Aragão foram destituídos, e a repressão da revolta da Navarreria, em 1277, em Pamplona, saldou-se pelo massacre da comunidade judaica. Foram feitas restrições à autonomia jurisdicional de que as comunidades dispunham, enquanto as Cortes reclamavam o perdão das dívidas contraídas com os judeus e a proibição de eles possuírem bens imóveis. A bula de Nicolau IV, de 1278, que decretava uma pregação geral destinada a converter os judeus, criou, por seu lado, um sentimento crescente de urgência, que se cristalizou na série de calamidades do século XIV: fomes, pestes e guerra. Movimentos milenaristas, na dependência dos espirituais franciscanos, difundiam profecias segundo as quais o Espírito deveria manifestar-se em Castela nos anos de 1360. Com efeito, produziram-se ataques isolados contra comunidades judaicas em virtude da guerra civil em Castela entre 1360 e 1370." (RUCQUOI, 1993, p. 304). 


Esse é o registro histórico feito pela Historiadora Adeline Rucquoi. Quem quiser refutar, leia o Livro conforme a referência abaixo e traga seus argumentos.  


Análise

A história mais do que comprova que por trás de todo dogma, por trás de toda doutrina, por trás de toda pregação extremista, por trás de toda máscara da santidade está o demônio do fanatismo que visa unicamente o caos, a insídia, a guerra, a destruição, a morte e o aniquilamento daqueles que julga como 'inimigos', 'impuros' e 'infiéis'. 

E. E-Kan


Referências: 

RUCQUOI, Adeline. História medieval da Península Ibérica. Lisboa: Estampa, Tradução Ana Moura, 1993, p. 215-269.










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